sexta-feira, 22 de maio de 2009

ELEIÇÕES SPORTING

Este artigo do jornalista Paulo Garcia no site online da SIC merece ser divulgado!!SEM COMENTÁRIOS!

"Episódio Dias Ferreira
Paulo Garcia
Jornalista
opiniao@sic.pt


Afinal - e apesar de algumas "ameaças" iniciais que não passaram disso mesmo -, as eleições do Sporting vão resumir-se, mais uma vez, a dois candidatos: o da continuidade (será?) - que vai ganhar sem qualquer contestação, quer o projecto traga algo de novo ou não (e eu até acho que vai trazer mais novidades e mexidas do que muitos presumirão) -... e o "outro", o que representa o grupo de sócios que é contra, e pronto, e mais nada! Mesmo não se percebendo muito bem porque é que o são (contra) e em quê - e o que é que realmente mudaria, se...!

Mas acabam por ser muito úteis, quanto mais não seja, porque como são contra tudo o que mexe e sabem que estão protegidos porque só correm o risco de ganhar numa situação de enorme "cataclismo" (que os próprios, obviamente, rezam todos os dias para que não aconteça), dão o tal "colorido" aparentemente democrático (com espaço e projecção dos média, o que dá sempre alguma visibilidade pessoal mesmo que pontual), que qualquer eleição que se preze necessita de ter.

No fundo, nada de diferente ou de anormal, em comparação com anos anteriores. Só isto seria suficiente para tornar absolutamente chocante o incidente em que Dias Ferreira se viu envolvido... quanto mais o resto!

O que eu quero dizer é que seria muito pouco provável, penso eu, ver Dias Ferreira como verdadeiro candidato a presidente do Sporting por sua conta e risco.

Dias Ferreira (de quem tenho a honra de ser amigo há muitos anos), enquanto cidadão é uma figura incontornável de seriedade, possuidor de valores morais tão vincados que não podem ser postos em causa em nenhuma circunstância. Tem um defeito (o que é óptimo): deixa soltar as emoções para campos que lhe tolhem a razão. É, no fundo, um eterno romântico!

Mas também sei que Dias Ferreira, de parvo não tem nada. Tenho a certeza que logo que afastasse "as mágoas que lhe cobrem a alma leonina" perceberia e, mais ainda, distinguiria sem grande dificuldade que neste processo - e mais uma vez - se tinha deixado atraiçoar pelas emoções à flor da pele.

Primeiro porque foi ele que se pôs a jeito para uma provável candidatura. Foi ele que se disponibilizou, num momento em que, tudo o indicava, a tal linha da "continuidade" parecia perdida...

Fê-lo consciente de que, com ele como timoneiro, o Sporting poderia dormir descansado e a salvo de qualquer possível "assalto" ...viesse ele de onde viesse.

E ninguém terá coragem nem credibilidade para achar o contrário, de tal maneira que na "estrutura" começou a ganhar corpo a hipótese da sua candidatura.

Dias Ferreira quis ajudar. Quando se mostrou disponível teve o cuidado de avisar que não lhe bastava o "poder popular" para se fazer presidente. Necessitava do outro "apoio", o que o colocaria sob protecção nas áreas estratégicas (económica, financeira), onde, manifestamente, não tem peso para se movimentar sozinho. E, pelos vistos, deram-lhe tempo para pensar que esse apoio estava garantido.

A ver-se já na cadeira presidencial, Dias Ferreira resolveu tirar os pés do chão quando percebeu que, afinal, nas suas costas... "havia outro"!

Chamou-lhe traição e, de coração decepado, apeteceu-lhe "avançar" sem limites, contra todos os que lhe inviabilizaram a concretização de um sonho de criança.

Aí, já lhe bastava apenas o voto do povo-Sporting, feito através de apaixonados apelos públicos, de calorosos sms´s , de chamadas telefónicas a prometerem votos, etc, etc. O resto, depois de eleito, logo se veria como resolver!

O Dias Ferreira "frio e lúcido" dava lugar ao Dias Ferreira "irracional e emotivo", um guerreiro de espada em punho que avança sem olhar nem às consequências e muito menos aos adversários que tem pela frente. Igual àquele que defende sem reservas, olhos nos olhos, sem medos, o clube que ama. Mas este patamar de responsabilidades, de obrigações, de vínculos, é, infelizmente, para Dias Ferreira, bem maior do que o do simples comentador/adepto respeitado. É preciso mais qualquer coisa...

Se bem conheço Dias Ferreira, esta raiva e esta mágoa estariam ultrapassadas num prazo muito curto de tempo, dando lugar ao Dias Ferreira apaixonado e protector da sua causa chamada Sporting. Mas apenas isso.

Voltada a racionalidade, perceberia que o nome que o substituiu (?) era só o primeiro da linha de sucessão a Soares Franco e não o último como tanto se quis fazer crer. Aliás, ninguém perguntou a Dias Ferreira aquilo que me parecia mais óbvio durante estes dias: se por exemplo, Bettencourt tem avançado duas semanas antes, se ele (Dias Ferreira) tinha sentido a mesma necessidade de dar a cara na defesa deste projecto eleitoral... A mim parece-me que não, sinceramente!

Mais: passada a "ressaca", Dias Ferreira perceberia facilmente que os mesmos sms´s, apelos, etc, de apoio à sua candidatura se voltavam contra si, logo que, depois de eleito (pelo tal voto do povo), ele não fosse capaz de apresentar soluções ou alternativas válidas para o clube. Os beijos viravam setas em poucos dias...

Não tenho, por isso, qualquer dúvida de que Dias Ferreira não avançava para candidato, ponderadas por ele todas estas questões logo que emocionalmente lhe fosse possível. Porque é inteligente, maduro e porque em nenhuma circunstância admitia colocar o seu Sporting em risco.

Mas agora apetece-me pedir-lhe que avance, sem reservas e... até ao fim. Em nome do seu sportinguismo sincero, por se tratar de uma dívida para consigo próprio e para com todos aqueles que ainda acreditam ser possível apostar numa sociedade civilizada, respeitadora de vontades e de opções, em que todos possamos dar as nossas opiniões sem correr o risco de sermos atirados por uma escada abaixo... Sobretudo quando estão em causa razões tão pequeninas comparadas com outras, essas sim, que deveriam mobilizar toda uma sociedade que parece cada vez mais adormecida e, por isso, cada vez mais frágil."

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